terça-feira, 28 de junho de 2011

Câncer de boca: prevenção é o melhor tratamento

Especialista alerta que evitar consumo de tabaco e álcool, manter uma dieta saudável e procurar o dentista regularmente colaboram para combater surgimento da doença






Os números do câncer de boca no Brasil revelam a gravidade da doença: apenas em 2010, segundo estimativas do Instituto Nacional do Câncer (Inca), foram mais de 14 mil novos casos. Esse já é o 5º tipo de câncer mais comum em homens e o 7º em mulheres. Em 2008, mais de 6.200 pessoas morreram em decorrência do câncer de boca. E, além da alta taxa de mortalidade, a doença também pode deixar graves seqüelas, já que afeta língua, bochechas, lábios, palato e o assoalho da boca, podendo comprometer a fala e a capacidade de alimentação.



De acordo com o mestre em cirurgia buco-maxilofacial, Dr. Luiz Marinho, o câncer de boca é uma preocupação muito grande para a saúde pública e a principal forma de se combatê-lo é por meio da prevenção. A Organização Mundial de Saúde estima que, quando diagnosticada nos estágios iniciais, a chance de cura para essa doença chega a 80%. “Para isso, o comprometimento do paciente com a própria saúde é primordial. Hábitos como evitar o tabaco e álcool e manter uma dieta saudável e equilibrada são fatores de prevenção, bem como a consulta regular ao dentista — pelo menos uma vez por ano para pessoas não-fumantes e duas vezes para os fumantes”, orienta.



No entanto, dados do Inca indicam que apenas 18% dos casos de câncer de boca no Brasil foram detectados no começo, enquanto 64,3% já estavam em fase avançada. “Depois do estágio inicial da doença, o prognóstico é sempre desfavorável. Por isso, é importante alertar para a necessidade de prevenção. E essa postura atinge uma relevância muito grande porque está comprovado que a abordagem preventiva é sempre mais eficaz que qualquer abordagem curativa”, diz o cirurgião.



Uma característica que contribui para a maior incidência — e letalidade — da doença é sua lenta manifestação. “O câncer de boca é silencioso porque está escondido dentro da cavidade oral. Assim como o câncer do intestino e de outras áreas do corpo, ele vai demorar a aparecer”, explica o Dr. Marinho, informando ainda que a cavidade bucal também é recipiente de cânceres de outros lugares, notadamente de próstata e pulmão ou aqueles tumores de natureza desconhecida que se manifestam na cavidade oral.



Desse modo, o especialista reforça que a detecção precoce da doença deve ser feita em conjunto com o paciente e um cirurgião dentista. “Alguns sintomas indicam a necessidade de se procurar um profissional imediatamente após detectados. A presença de manchas brancas, avermelhadas ou branco-avermelhadas; feridas e úlceras localizadas na boca, lábio e língua que não cicatrizaram em até três semanas; caroços; inchaços; sangramentos sem causas aparentes; e, em alguns casos, aumento no volume do rosto, inchaço e dentes bambeados de repente podem ser indícios de tumores e devem ser tratados sem demora”, afirma o Dr. Marinho.



Causas e tratamento

Segundo o Dr. Luiz Marinho, dois dos principais agentes etiológicos do câncer de boca são o tabaco e o álcool. E a mistura de ambos potencializa seus efeitos nocivos. Dados da OMS informam que essas substâncias, aliadas a maus hábitos alimentares e infecções, são responsáveis por 43% das mortes por câncer em todo o mundo.



“No entanto, outros fatores também representam condições pré-disponentes para a ocorrência do câncer de boca: lesões virais, principalmente aquelas causadas pelo vírus HPV, e traumas crônicos — por exemplo quando uma pessoa usa a mesma dentadura há anos e sofre traumas naturais ao colocar e retirá-la. A exposição crônica à radiação solar e uma dieta deficiente em vitaminas e proteínas também estão relacionadas ao surgimento do câncer bucal”, acrescenta o especialista.



Quando diagnosticada, a doença é tratada com cirurgia, radioterapia e quimioterapia, que podem ser que podem ser realizadas em conjunto ou não. “Mas são tratamentos dispendiosos e desfigurativos. Além disso, o câncer de boca apresenta tumores que não respondem bem à quimioterapia, principalmente aqueles localizados nas das glândulas salivares. Essa é mais uma razão que exige a necessidade da prevenção”, diz, completando que pacientes com a doença devem ser acompanhados por uma equipe multidisciplinar composta pelo cirurgião dentista, um cirurgião de cabeça e pescoço, um fonoaudiólogo e, geralmente, um psicólogo.



Sobre a fonte: Dr. Luiz Marinho é especialista, mestre em cirurgia buco-maxilofacial e doutorando em implantodontia. Além de ser coordenador do curso de pós-graduação em implantodontia da Funorte (Faculdades Unidas do Norte de Minas), Luiz Marinho integra a comissão para desenvolvimento de novas tecnologias e bioengenharia da Associação Mundial de Cirurgia Buco-Maxilofacial (IAOMS), onde também é editor da revista publicada pela entidade. Além disso, é diretor das clínicas Luiz Marinho – Núcleo de Cirurgia Maxilofacial e Implantar, na Capital.