sexta-feira, 11 de março de 2011

Doenças da retina: Especialista alerta que exames rotineiros ajudam a prevenir doenças que podem causar cegueira total

Sintomas são silenciosos e, se descobertos a tempo, essas doenças podem ser tratadas e a cegueira paralisada. Tratamentos podem ser feitos pelo SUS

Contrariamente do que muitas pessoas pensam, o uso excessivo da visao não ocasiona nenhum desgaste à saúde ocular. Porém, o professor titular do Departamento de Oftalmologia e Otorrinolaringologia da Faculdade de Medicina da UFMG e diretor Internacional da Sociedade Europeia de Retina e Vítreo faz um alerta: a consulta frequente junto a um oftalmologista pode detectar doenças muitas vezes silenciosas, que pode comprometer a visão, como o glaucoma ou as doenças da retina, por exemplo. “Os problemas com a retina são variados e, se não detectados em tempo hábil, podem causar cegueira total”, explica.

Segundo ele, entre as quatro principais causas da cegueira, duas estão relacionadas às doenças da retina. Para abordar o tema, o especialista dá orientações sobre as doenças mais graves, bem como seus sintomas e tratamentos.

Doenças da retina - O descolamento da retina, ou seja, quando ela se solta da parede interna do olho, causa uma baixa de visão muito acentuada é um dos problemas mais graves que podem afetar a saúde ocular. De acordo com Nehemy, esse descolamento pode ocorrer espontaneamente, por uma tração de um gel chamado humor vitreo, que existe dentro do olho, ou descolar como consequência de outra doença como o diabetes, por exemplo, ou ainda por trauma “É necessária uma intervenção cirúrgica imediata quando há o descolamento”, ressalta o especialista que destaca ainda as várias outras doenças que podem acometer a retina, entre elas as de caráter hereditario; as degenerativas como a retinopatia diabética e a degeneração macular relacionada à idade”, reforça.


Sintomas - A retina é a parte do olho responsável pela formação de imagens, ou seja, pelo sentido da visão. “É como uma tela onde se projetam as imagens: retém as imagens e as traduz para o cérebro por meio de impulsos elétricos enviados pelo nervo óptico. Nehemy alerta que a pessoa pode ter alguns sintomas quase que imperceptíveis. Ressalta também que as doenças da retina não apresentam sinais externos como vermelhidão ou dor. Alguns dos sintomas que podem ser observados são: deformação dos objetos, falha na leitura das letras e flashes de luz”, observa.


Exames de última geração - Um exame oftalmológico convencional é suficiente para identificar se existe alguma doença da retina e todos os oftalmologistas são capazes de verificar se o paciente tem baixa de visão e se essa baixa é causada por alguma doença da retina. “Dependendo da patologia da retina, entretanto esse profissional pode ter alguma dificuldade de saber exatamente qual a doença, assim eventualmente poderá encaminhar o paciente ao retinólogo – médico especialista em retina - que fará exames mais sofisticados para detectar qual o grau da doença”, alerta.

Segundo Nehemy, existem no mercado exames de última geração, como, por exemplo, a tomografia de coerência óptica que, ao contrário das convencionais, não usa irradiação, e sim, feixes de luz e consegue fazer uma avaliação muito precisa da retina. “Por meio dessa tomografia, é possível estudar as suas 10 camadas e verificar a existência de líquido (edema) ou sangue dentro dela”, observa.

Ainda de acordo com o especialista, outro exame para detectar as doenças é a angiografia. Nesse exame, é injetado um contraste na veia do paciente que, automaticamente, cai em sua circulação atingindo o fundo do olho, que é fotografado, permitindo assim a avaliar a circulação sanguínea da retina . “ Muitas doenças da retina se caracterizam pela má circulação do olho. É possível dessa forma verificar qual a doença e a sua gravidade”, explica.


Tratamentos e cirurgias- Graças ao avanço da medicina, é possível hoje interromper e até mesmo reverter alguns tipos de cegueira. A boa notícia é que maioria dos tratamentos, inclusive cirurgias, são feitas pelo SUS. O Hospital São Geraldo da Faculdade de Medicina da UFMG, no qual chefia o serviço de retina, é referência no Estado e realiza cirurgias muito sofisticadas, que podem ser comparados aos procedimentos das clínicas especializadas. Para conseguir o tratamento, o paciente deve agendar consulta junto ao posto de saúde de sua região e pode solicitar o atendimento no hospital.


Nehemy ressalta que o descolamento da retina é considerado urgência oftalmológica e o paciente deve ser operado o mais rápido possível. Ele explica que hoje, existem técnicas de microcirurgia muito sofisticadas que envolvem tecnologia de ponta. Observa que o Brasil, dispõe dos mais modernos recursos disponíveis hoje no mundo. E que a oftalmologia brasileira é hoje reconhecida como uma das melhores do mundo. Ressalta ainda que Belo Horizonte é um dos mais importantes centros oftalmológicos da America Latina. O Instituto da Visão, do qual é diretor, participa de pesquisas juntamente com a UFMG e importantes Universidades americanas e européias, na pesquisa e desenvolvimento de novos medicamentos para tratamento de várias doenças oftalmológicas.


O tratamento com raios laser é considerado pelo especialista, como uma arma poderosa para tratar algumas doenças da retina, entre elas a retinopatia diabética, o descolamento da retina , e outras doenças que afetam os vasos da retina, assim como algumas formas de degeneração macular. “O laser para o tratamento de retinopatia diabética é considerado um dos maiores avanços do século XX. Antes dele, o paciente diabético estava condenado à cegueira”, ressalta.


O uso de medicamentos dentro do olho também representa uma nova modalidade de tratamento para as doenças da retina. Esses novos medicamentos são injetados no olho por meio de uma microcirurgia. “Trata-se de um procedimento simples e rápido, porém delicado e deve ser cercado de cuidados. Por isso, deve sempre ser realizado em ambiente hospitalar e em clínicas especializadas”, alerta. “Esses novos medicamentos estabeleceram um novo horizonte no tratamento de doenças da retina”, reforça.


 Márcio Nehemy conta que a criança pode ter problemas congênitos de retina ou pode nascer com má formação, ou apresentar problemas hereditários. Segundo ele, algumas doenças manifestam-se logo após o nascimento. “A maneira de identificar esses problemas é acompanhar a criança juntamente com o pediatra. Ele e os pais conseguem perceber que a criança não está fixando bem objetos, não acompanha, faz movimentos de procura com os olhos. Aí é necessário o encaminhamento ao oftalmologista”, informa. “É importante avaliar, também, a criança na idade pré-escolar e os pais podem fazer um teste inicial simples, tampando um dos olhos e deixando a criança enxergar com o outro olho. Depois alternar o olho. Se ela não estiver enxergando, ela dará sinais, como querer retirar o tampão, por exemplo”, explica.



Quando ir ao oftalmologista – A recomendação é de que todas as pessoas devam consultar o oftalmologista frequentemente. Para o paciente jovem, a cada três ou quatro anos e para pessoas acima de 40 anos, a cada dois anos, se ainda não tiver nenhuma doença.



Sobre a fonte - O médico Márcio Nehemy é Professor Titular do Departamento de Oftalmologia e Otorrinolaringologia da Faculdade de Medicina da UFMG, coordenador médico e chefe do serviço de Retina e Vitreo do Hospital São Geraldo. Também é diretor Internacional da Sociedade Europeia de Retina e Vítreo e do Instituto da Visão, em Belo Horizonte. Em seu currículo, tem mais de vinte teses de doutorado orientadas, mais de uma centena de artigos científicos publicados, livros especializados e dezenas de capítulos de livros publicados, e já ultrapassou a marca de 1.500 apresentações científicas em congressos e cursos, no Brasil e no exterior.